Admitamos, em tese, o superveniente interesse público da divulgação das escutas realizadas no âmbito do processo Face Oculta, mesmo que à custa de meia dúzia de direitos cívicos e individuais, entretanto reduzidos a pormenores, e da violação do segredo de justiça, este sim, por mérito próprio, efectivamente um pormenor. Seja!
Mas como explicar, então, a necessidade de divulgar as ditas escutas de forma parcial, selectiva, claramente ao serviço de um guião previamente elaborado, ao melhor jeito da produção novelesca nacional, e com o qual se pretende garantir a atenção do espectador guardando para os derradeiros episódios o que se deseja venha a ser um desfecho de cortar a respiração? Que superior interesse se pretende salvaguardar com esta estratégia?
Bem, assim de repente só me ocorre um: o superior interesse financeiro do primeiro jornal da lusofonia.
Depois do resplandecente arquitecto ter denunciado ignominiosas tentativas de condicionamento, por parte de Sócrates e do PS, da linha editorial do jornal, associadas à promessa de salvação financeira do Sol, é profundamente irónico que seja justamente à pala do Sócrates e do PS que o projecto-rei pode agora olhar com maior desafogo o futuro próximo.