Provavelmente a conselho «de pessoas um pouco especializadas nestas matérias», a Dra. Manuela faz-se agora acompanhar de um sorriso do tipo aberto. Muito embora o adereço seja uma novidade, Manuela Ferreira Leite parece ter-lhe ganho rápida afeição, ao ponto de não o dispensar em nenhuma ocasião. Sorri quando assegura que a realidade económico-social «está a evoluir para pior», ou quando fala de um endividamento «que é trágico para o país», ou ainda quando manifesta a sua preocupação com «a situação de desemprego que começa a ser muito séria».
«É algo de tal forma absurdo [as 'malditas' obras públicas] e de tal forma comprometedor do nosso futuro que eu julgo, de resto, e já o tenho dito, que o governo não tem legitimidade democrática para poder tomar decisões destas em vésperas de eleições».
Depois de não ter pegado aquela sua ideia de suspendermos a Democracia por seis meses, Manuela Ferreira Leite vem agora, em alternativa, sugerir a suspensão da actividade governativa nos seis meses que faltam até às eleições legislativas.
Em mais um prodigioso momento de comunicação, daqueles a que já nos vem habituando, Manuela Ferreira Leite conseguiu hoje um feito absolutamente assinalável: atropelar-se a si própria. Antes mesmo de ser emitida a entrevista a Mário Crespo já a Dra. Manuela se desdobrava em declarações sobre o verdadeiro sentido das suas palavras.
Então, isto assemelha-se muito a uma declaração de intenção de voto:
«(...) nas propostas que os diversos partidos irão apresentar ao eleitorado, deve existir realismo e autenticidade.
Aquilo que se promete deverá ter em conta a realidade que vivemos no presente e em que iremos viver no futuro. Dizer que essa realidade será fácil será faltar à verdade aos Portugueses. Quem prometer aquilo que objectivamente não poderá cumprir estará a iludir os cidadãos.»
Mas este não é, seguramente, o tempo das propostas ilusórias. Este não é o tempo de promessas fáceis, que depois se deixarão por cumprir.»
(Cavaco Silva na Sessão Comemorativa do 35º aniversário do 25 de Abril)
Eu cá não sou 'Cavacologista', mas se isto:
«A verdade é essencial para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes.
É sabendo a verdade, e não com ilusões, que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca.»
(Cavaco Silva na Mensagem de Ano Novo, 2009)
E isto:
«O abrandamento da economia portuguesa que se tem vindo a verificar não me surpreendeu excessivamente»
«Primeiro, porque se tornou claro, desde o segundo semestre de 2007, que se estava perante uma deterioração acentuada do sistema financeiro internacional, a qual, apesar da sua origem localizada, teria consequências inevitáveis sobre a economia global.»
«A segunda razão por que não me surpreenderam excessivamente os efeitos da crise financeira internacional em Portugal reside no facto de a mesma ter chegado quando a economia portuguesa ainda apresentava vulnerabilidades estruturais sérias, conhecidas, de resto, da generalidade dos economistas atentos da realidade do País.»
(Cavaco Silva no prefácio do livro de intervenções "Roteiros III")
E isto:
«Seria um erro muito grave, verdadeiramente intolerável, que, na ânsia de obter estatísticas económicas mais favoráveis e ocultar a realidade, se optasse por estratégias de combate à crise que ajudassem a perpetuar os desequilíbrios sociais já existentes ou que hipotecassem as possibilidades de desenvolvimento futuro e os direitos das gerações mais jovens.»
(Cavaco Silva na Sessão de Abertura do 4º Congresso da Associação Cristã de Empresários e Gestores )
Dizem, são críticas ao governo...
«É dada ordem para ser transmitido o primeiro comunicado. Foi com emoção que em todo o País centenas de militares ouviram pela voz de Joaquim Furtado o primeiro de vários comunicados que haviam sido redigidos pelo Maj. Vitor Alves.»
(Fonte: Associação 25 de Abril)
«...pela voz previamente gravada de Leite de Vasconcelos, através dos potentes emissores da Rádio Renascença, ouve-se a primeira quadra da canção Grândola, Vila Moreno, de José Afonso.»
(Fonte: Associação 25 de Abril)
A voz de João Paulo Dinis anuncia aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74 «E Depois do Adeus».
(Fonte: Associação 25 de Abril)
Depois de, ontem, o estratega do 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, ter sido promovido a Coronel, no próximo Domingo será a vez de D. Nuno Álvares Pereira, estratega de Aljubarrota, ser promovido a Santo.
Na defesa que hoje fez da sua dama, José Eduardo Moniz confessou-se «surpreso» e «estupefacto» perante as declarações de Sócrates na entrevista à RTP. Não tanto «pela atitude crítica em relação ao jornalismo da TVI», disse, «mas pelo conteúdo, tom e termos» utilizados, que considera «impróprios para uma pessoa com as responsabilidades que tem perante o país, e incompatíveis com o sentido de estado que o deve acompanhar em todas as ocasiões», concluiu.
Ora, a estupefacção e surpresa confessadas por Moniz são elas mesmas tanto ou mais surpreendentes quanto revelam uma insólita ingenuidade por parte do Director-geral da TVI. Que diabo, Zé Eduardo! Então não estamos a falar de alguém que comprou uma licenciatura por 4 milhões de Cuachas Malauianas, que aprovou um offshore ilegal ao seu próprio professor de música, o tal que dizia ser de sua autoria o poema 'Eu vi um sapo', eternizado pela voz de Maria Armanda? E isto para já não falarmos na mãe dele que, é sabido, vive há anos numa Central de Compostagem, na Cova da Moura. Então? Como é possível esperar um comportamento digno por parte de um homem destes?!
«Divergência internas: Rui Rio discorda de Manuela Ferreira Leite e critica projecto do PSD sobre enriquecimento ilícito»
(Público)
«Manuela Moura Guedes vai processar José Sócrates». E faz a Manuela muito bem. Afinal, quem não se sente não é filho de boa gente.
[Adenda]
E agora? Se é certo que quando José Sócrates processa um jornalista isso é uma pressão, será que quando um jornalista processa José Sócrates isso é... 'Impulse'?
Pois é, há por aí muita gente apostada em fazer desaparecer José Sócrates numa espécie de triângulo das bermudas, com vértices em Queluz, Alcochete e Belém...
Não sei se à falta de outros pretextos, ou de causas mobilizadoras, os Sindicatos da polícia convocaram para hoje uma manifestação de evocação do histórico protesto que, corria o ano de 1989, opôs polícias secos a polícias molhados. Não consta que Cavaco Silva e Dias Loureiro - Primeiro-ministro e Ministro da Administração Interna, à data - tenham sido convidados para se associarem às comemorações do vigésimo aniversário desta efeméride.
Depois de ver o Prós e Contras desta noite, fiquei a perceber melhor o argumento daqueles que, em tempo, se manifestaram contra a possibilidade de realização em simultâneo das eleições europeias e legislativas, temendo que os portugueses pudessem confundir o que estava em causa em cada um dos actos eleitorais. Só hoje, contei eu quatro portugueses confundidos...
A crer na história que hoje nos é contada pelo Público - jornal insuspeito de situacionismo -, Manuela Ferreira Leite revela um surpreendente à vontade para se movimentar nos meandros da 'velha política', tantas vezes por si esconjurada.
À luz deste episódio, é agora clara a mensagem do sombrio cartaz da Dra. Manuela: é ela a 'política de verdade', à séria, na pior acepção da expressão. Mestre nas jogadas de bastidores, nas negociações por detrás do pano, guardiã dos interesses do aparelho partidário.
«Empresários, banqueiros e gestores submissos em relação a ministros, secretários de estado ou outros agentes políticos, em nada contribuem para o desenvolvimento sustentado do nosso país»
Curiosamente, esta passagem do discurso que Cavaco Silva anteontem proferiu na Sessão de Abertura do 4º Congresso da Associação Cristã de Empresários e Gestores, na qual Sua Excelência detalha o que no parágrafo anterior tinha designado, genericamente, por «poder político», não consta da versão do discurso publicada na página da presidência. Um improviso de última hora ou arrependimento tardio?
«Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser assim
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver»
Ontem, em declarações ao Público, o guitarrista dos Xutos & Pontapés, Zé Pedro, mostrou-se surpreendido com a tentativa de transformar a canção 'sem eira nem beira' num hino de protesto contra José Sócrates, tentativa essa que o próprio Zé Pedro classifica como uma «deturpação» da intenção do grupo.
Ora, se já estava surpreendido antes, mais surpreendido deve ter ficado depois de ler a construção jornalística que abafa as suas declarações. É que apesar das ditas, e de outras declarações recentes, algumas mesmo de apoio expresso ao tal 'senhor engenheiro', como aqui documenta o João Magalhães, toda notícia é orientada para a promoção e incentivo à utilização da canção enquanto ícone da tão desejada rebelião das massas contra Sócrates. Não faltou sequer um jornalista da casa (ou agente comercial da Sonae?) a andar de porta em porta, pelas sedes partidárias, num verdadeiro 'road show' de divulgação da nova música, sugerindo a sua utilização em iniciativas políticas da oposição. É que a cantiga é uma arma, tem de ser uma arma, e pronto! Ou, como dizemos cá pelo Baixo Alentejo: queiras, que não queiras, tens das mamar!
Não sei se por defeito, ou feitio, Manuela Ferreira Leite tem demonstrado uma confrangedora inabilidade na condução de alguns dossiers decisivos neste ano de todas as eleições. Acossada com as pressões que lhe chegam pelas páginas dos jornais, ensaia uma pose de 'woman in charge'. É sua a escolha e o tempo, garante-nos, e segue em frente, sem perceber (?) que caminha para um beco sem saída. Mingua a sua pretensa credibilidade e autoridade na exacta media em que avultam as intrigas e conspirações. Aconteceu com a candidatura de Santana em Lisboa, repetiu-se com a escolha de Paulo Rangel para encabeçar a lista das europeias.