(E você, já pediu ao Marcelo para avançar?)
Imagino que o pior pesadelo que povoa os curtos sonos de Marcelo Rebelo de Sousa será o de imaginar-se acorrentado à liderança do PSD num momento em que futuro político-económico a curto e médio prazo se encontra pontuado por todo o tipo de interrogações.
Que atitude esperar do novo governo minoritário? Qual a estratégia das diferentes oposições? Como vai evoluir a situação económica a nível mundial? Que efeitos essa evolução produzirá no nosso país? Qual a capacidade de recuperação de Cavaco no ano e pouco que nos separa das eleições presidenciais?
Nestas circunstâncias, a 'iniciativa para o consenso', lançada e prontamente enterrada pelo próprio Marcelo, não passou de mais uma habilidade do Professor, que assim pensava poder virar costas ao PSD, num momento particularmente difícil, fazendo recair o ónus da sua decisão sobre os «barões» social-democratas.
A avaliar pela vaga de fundo que se iniciou, espontaneamente, por volta das nove da noite da passada quinta-feira, na RTP, os seus companheiros terão decidido devolver-lhe a brincadeira.
«Toda a gente sabe que em Portugal o melhor líder de oposição que alguma vez existiu foi o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, fossem os governos do PS, fossem os governos do PSD»
Paulo Rangel, na Grande Entrevista da RTP
Em S. Bento: um governo com apoio parlamentar minoritário. A perda de votos e mandatos do PS não pode, porém, deixar de significar também uma transferência de responsabilidades para os restantes partidos com assento parlamentar. Tempos difíceis para a demagogia irresponsável e inconsequente da oposição.
Em Belém: um Presidente que, muito embora em nada diminuído nos seus poderes constitucionais, tem os seus actos e intervenções públicas sujeitos a um rigoroso escrutínio político. A Cavaco não bastará agora parecer isento, é preciso que o seja. Tempos difíceis para uma retórica de ambiguidades.
Por aí, por esse mundo fora: sinais - por ora ténues, é certo - de que a retoma pode ter começado. Os efeitos da recuperação da economia mundial, quando surgirem - e surgirão, inevitavelmente - não deixarão de se fazer sentir, também, em Portugal. Qualquer Primeiro-ministro se arrisca, por estes dias, a ficar com seu nome associado ao desenvolvimento e progresso do país. Tempos difíceis para a cultura miserabilista.
Por tudo isto, olho em frente e vejo um governo Sócrates para oito anos. Vá lá, seis.
José Junqueiro, «destacada personalidade do partido do Governo», será doravante uma destacada personalidade do propriamente dito Governo.
«Saí porque me fizeram a vida negra. Tenho a consciência que se tivesse ficado [na liderança do PSD] porventura o PSD hoje estava a formar governo»
(Lusa)
«Pela minha parte, mantive escrupulosamente e com o maior rigor o compromisso de total isenção e imparcialidade em face dos diversos partidos.»
«Tenho mantido, ao longo do meu mandato, uma rigorosa imparcialidade perante as diversas forças políticas.»
Verdadeiramente impressionante a enxurrada de análises, contra-análises e psicanálises que se abateu sobre o espaço informativo no minuto seguinte a serem conhecidos os nomes escolhidos por José Sócrates para o XVIII Governo Constitucional. Para mais tratando-se de uma meia dúzia, bem medida, de ilustres desconhecidos e outros tantos velhos conhecidos. Mas que tanto pode haver para dizer sobre aqueles e que tanto ainda haverá por dizer sobre estes?
No Conselho Nacional desta noite o PSD irá analisar o recente 'ciclo eleitoral', no que parece ser uma desesperada tentativa de fazer valer a teoria do 'cômputo geral' - duas vitórias e uma derrota -, de resto logo ensaiada na noite do desaire das legislativas.
Parafraseando Durão Barroso, já toda a gente sabe que Manuela Ferreira Leite será apeada, só não se sabe é quando.
Há dias, alguém veio dar a este blogue interessado em saber a data de nascimento e o signo de Avelino Ferreira Torres, possivelmente, para fazer a carta astral do ex-autarca do Marco, muito embora não seja preciso ter asas e chamar-me Maia para perceber que o bom do Avelino não anda em maré de sorte...
Mas porque um blogue também é serviço público pusemo-nos em campo para tentar obter as informações pretendidas, tendo, surpreendentemente - ou talvez não, tratando-se de Avelino - encontrado duas respostas possíveis. Uma primeira, na Wikipédia, que nos diz ter nascido em 1957. Outra, numa reportagem do Público datada de 2005, em que é indicado o ano da graça de 1945 para o seu nascimento. Assim, give or take a few, Avelino Ferreira Torres é rapaz para ter, aproximadamente, entre 52 e 64 anos de idade.
Já quanto ao signo, em nenhuma das fontes consultadas é indicado o dia e o mês do nascimento. Se bem que, a acreditar em algumas decisões judiciais recentes, atrevo-me a arriscar que não seja Virgem. Às vezes chega mesmo a parecer um Touro enraivecido.
Esta noite, na SIC, os 'Gato Fedorento' esmiúçam Marcelo Rebelo de Sousa, o impagável comentador. O verdadeiro.
«Vamos ter Tratado de Lisboa, só não sei é quando»
A frase foi hoje proferida por Durão Barroso e faz lembrar uma outra do mesmo autor, depois de ter perdido as legislativas de 1999 para António Guterres. Disse então Durão: «Tenho a certeza que serei primeiro-ministro, só não sei é quando». E se é verdade que venceu as legislativas bem mais cedo do que então se previa (2002), não é menos verdade que ainda hoje o PSD se procura por entre os destroços da fugaz liderança de Durão.
No 'play-off' de apuramento para a fase final do Mundial da África do Sul calhou em sorte (?) à equipa das quinas defrontar a selecção da Bósnia-Herzegovina. Uma selecção, recorde-se, que na fase de grupos deu 4-2 à Bélgica, 4-1 à Estónia e 7-0 à Arménia (!!). Uma selecção que, evidentemente, joga à Benfica...
A notícia que hoje dá conta da eventual expulsão do Partido Socialista de militantes que nestas autárquicas terão protagonizado candidaturas concorrentes com candidaturas oficiais do PS só pode ser manifestamente exagerada. Ou bem que se aplicam processos disciplinares a todos, ou bem que vamos todos almoçar ao Porto de Santa Maria.
O Santana Lopes que agora pretende justificar a sua derrota em Lisboa ora com a (ilegítima?) concentração de votos de eleitores da CDU (e BE, ainda que em menor escala) na lista encabeçada por António Costa - por comparação com as votações daqueles partidos nas listas concorrentes à Assembleia Municipal -, ora com o efeito nefasto das sondagens publicadas na recta final da campanha, é o mesmo Santana Lopes que em 2001 foi eleito presidente da Câmara de Lisboa, justamente, beneficiando de uma evidente concentração de votos de eleitores do BE e CDS/PP:
(Síntese de resultados Autárquicas 2001/Concelho de Lisboa)
E é ainda o mesmo Santana que nas legislativas de 2005 fazia questão de exibir, em centenas de outdoors de campanha, espalhados por todo o país, os resultados do PSD nas sondagens publicadas à data:
Aguiar Branco bem que tentou avançar com uma candidatura à liderança do grupo parlamentar do PSD «sem o aval da líder e da direcção» do partido.
Aparentemente a Dra. Manuela não terá achado grande graça à brincadeira do seu vice-presidente e já se apressou a esclarecer que a candidatura de Aguiar Branco tem o «apoio pessoal da presidente do PSD». Vou levar-te comigo, meu irmão. Vou levar-te comigo.
A súbita polémica que por estes dias opõe o inquebrantável orgulho lusitano à actriz brasileira Maitê Proença tem pelo menos o mérito de nos revelar uma outra Maitê, por certo desconhecida de muitos portugueses. Ora vejam lá...
Vale bem a pena ler este texto. Foi escrito por alguém que ainda há pouco, poucochinho, era o rosto tresloucado e a voz histérica de uma cruzada sem tréguas, destinada a apear um presidente e uma direcção escassos seis meses depois de democraticamente eleitos pelos militantes social-democratas, negando-lhes, ao presidente e à sua direcção, a oportunidade de demonstrarem nas urnas a bondade da estratégia política que então estava ser seguida.
Hoje, é o mesmo Pacheco Pereira que considera «fundamental» a permanência de Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD, nestes «dias de todas as tentações».
A Dra. Manuela «sabe o que quer e sabe o que não quer», escreve ainda Pacheco sem, porém, cuidar de explicitar a relevância desse saber para o futuro do país e do PSD, depois do dia 27 de Setembro.
A verdade é que os portugueses demonstraram, também eles, saber muito bem o que querem e o que não querem. E, por muito que custe a Pacheco, tão cedo quanto lhes seja dada essa oportunidade, também os militantes do PSD não deixarão de dizer, com igual assertividade, o que querem e, sobretudo, o que não querem.
A ainda líder do PSD caiu no engodo que Santos Silva lhe lançara na véspera. Aos jornalistas, no final da audiência com José Sócrates, Manuela Ferreira Leite reafirmou a sua condição de «legítima dirigente do partido».
É-me difícil imaginar maior e mais confrangedora exibição de irrelevância política.
O Partido Socialista foi escolhido para governar, pelos portugueses, no passado dia 27 de Setembro. Desde então que assistimos a um entra e sai do Palácio onde Sua Excelência já ouviu por duas vezes - informal e formalmente - os representantes dos partidos com assento parlamentar, e ao qual rechamou José Sócrates para o indigitar. Cabe agora a vez ao Primeiro-Ministro que, entre hoje e amanhã, irá auscultar os demais líderes partidários. Uma burocracia majestática capaz de fazer corar de inveja a imperial Inglaterra.
«Parto para essas conversas [com os partidos] com espírito aberto, com coração limpo».
Absolutamente incompreensível e inexplicável o Prós e Contras desta noite. Surpreendente é que quatro experimentados jornalistas não o tenham percebido.